Aprilynne Pike e "O Beijo dos Elfos"


Desde pequena que escreve histórias de fadas e que sonha com estes seres míticos. Quando finalmente decidiu escrever um romance de fantasia e arriscar na busca pela sua publicação, nunca imaginou que teria de ser confrontada com mais de cem rejeições das editoras. A verdade é que quando a HarperCollins Publishers arriscou no lançamento deste “romance de estreia maravilhoso”, nas palavras de Stpehenie Meyer, o mesmo ocupou, quase de imediato, o nº 1 da tabela de best-sellers do New York Times. Com uma mitologia inovadora, conflitos emocionais e paixões arrebatadoras, “O Beijo dos Elfos” chegou a Portugal e conquistou tanto os leitores mais românticos, como os mais ávidos aventureiros e os mais gulosos por intrigas repletas de perigo e suspense.

Em “O Beijo dos Elfos” apresenta-nos uma mitologia e mundo das fadas inteiramente novos. O que é que a levou a alterar toda a mística tradicional que envolve estes seres?

Bem, eu adoro fadas desde que me lembro. Sejam elas grandes, pequenas, com ou sem asas, eu adoro-as. Contudo, quando quis escrever a minha própria história sobre estes seres míticos que faziam parte da minha vida, quis também criar algo novo, algo que fosse só meu. Isto é muito mais fácil de dizer do que fazer, porque foi algo que me levou imenso tempo a conseguir e, digamos, me “fez a cabeça em água”! (risos) No fim, lá consegui construir os meus próprios mitos e todo este mundo de que falo em “O Beijo dos Elfos”. Confesso que estou bastante orgulhosa daquilo que criei porque, até hoje, ainda não encontrei nada que fosse minimamente parecido.

Como têm sido as reacções a esta nova ideologia do mundo das fadas? As pessoas gostam mais da nova versão?

Há algumas mais conservadoras e religiosamente fiéis à tradição que não gostam e que se recusam a aceitar as mudanças, mas, felizmente, são poucas e, geralmente, são silenciadas pelas restantes que aprovam. Essas, geralmente, até dizem que a nova mitologia é aquilo de que mais gostam no livro. Sinceramente, acho que toda a gente gosta de ter uma nova perspectiva das histórias e dos mitos tradicionais, que nos acompanham desde a nossa infância e que fazem parte das nossas vidas. Eu sei porque eu própria adoro filmes e livros que o fazem.

Sempre teve uma imaginação muito hiperactiva. Haverá alguma razão em especial? Porque é que acha que isso acontece?

Acho que, tal como há aquelas pessoas que são melhores a matemática (eu não sou, definitivamente, uma delas!), também há aquelas que são apenas mais imaginativas que outras. Não acho que seja preciso ser-se super-imaginativo para se ser escritor, nem acho que a imaginação seja algo imprescindível para a escrita. No entanto, no meu caso, tenho a certeza de que ajuda muito.

Depois de uma grande batalha por um sonho, conseguiu finalmente publicar o seu primeiro livro, tendo este, de imediato, ocupado o nº1 da tabela de best-sellers do New York Times. Como é que encarou tudo isto?

Sinceramente, encarei tudo com muita calma. Escrever um livro que se torna best-seller nº1 não faz de mim uma pessoa melhor, nem sequer melhor escritora que todos os outros. Para mim, ser best-seller significou que, no Verão passado, muitos jovens gostavam de fadas e queriam ler sobre elas. Não que eu não estivesse maravilhada, porque estava. Eu saltava de alegria! No entanto, não podemos deixar que isso nos iluda e nos leve a pensar que somos melhores que os outros escritores. É uma sensação maravilhosa sim senhor, mas, a verdade é que não faz de mim outra pessoa.

A sequela de “O Beijo dos Elfos” já está disponível na versão original. O que é que os seus fãs podem esperar de “Spells”?

Em “Spells”, Laurel é convocada pela Academia de Avalon para aprender a ser uma fada do Outono. O melhor desta parte foi poder trazer os leitores para lá dos portões de Avalon e apresentar-lhes tudo o que estava para além deles e que, em “O Beijo dos Elfos”, não pudemos descobrir. Estar em Avalon significa também que haverá mais de Tamani, pelo que o vamos conhecer melhor e saber mais do seu passado. Vamos também poder ver os desenvolvimentos da Laurel e do David como casal, uma vez que no último livro não tivemos ainda essa oportunidade. Além disso, vamos poder ainda acompanhar mais a Chelsea, que é a minha personagem favorita, e que foi uma coisa que me trouxe momentos de enorme prazer e diversão.

Já há datas de lançamento para os dois últimos livros da série? O que é que podemos esperar dos mesmos? Será que já é possível revelar algumas pistas sobre o que é que vai acontecer no terceiro e quarto livros, por exemplo, quais serão os títulos?

Os dois últimos livros da série serão lançados nos EUA no início dos Verões de 2011 e de 2012, respectivamente. Ainda não há datas certas, apenas previsões. Quanto aos títulos, já os há, mas não os posso revelar por enquanto. Além disso, ainda é um pouco cedo para estar a dar pistas sobre o que irá acontecer nos dois últimos livros. Posso desde já dizer que vai abranger o 12º ano da Laurel na escola. Como vão poder ver, “Spells” acaba com bastante suspense e posso também prometer-vos que não vou deixar os meus leitores a desesperar durante muito tempo. Aliás, vão descobrir o que é que está, afinal, a acontecer logo no primeiro capítulo do terceiro livro!

Sabe-se que a Disney irá produzir o filme baseado na história “O Beijo dos Elfos” e que Miley Cyrus irá protagonizar o mesmo no papel de Laurel. Como é que reagiu a estas duas grandes novidades? Alguma vez imaginou que tal fosse possível?

Soube tudo através de um e-mail do meu agente e graças a isso apanhei o avião errado! (risos) A verdade é que li o tal e-mail enquanto me estava a dirigir para o avião e estava de tal maneira especada a olhar para o ecrã do telemóvel que, quando dei por mim, estava a bordo do avião errado e por pouco não fui parar a Kalispell, em Montana, em vez de a São Francisco, na Califórnia! Felizmente dei pelo erro ainda o avião não tinha descolado e tudo se resolveu atempadamente! (risos)
Enfim, a ideia de ver o meu livro transformado em filme ainda me parece muito surreal, porque embora eu tenha partilhado o meu mundo com os leitores ele ainda está muito presente na minha cabeça e tudo quanto seja imagem e cenários só existe nela. O que vai acontecer é que, com o filme, vou, pela primeira vez, ver esse mundo fora da minha cabeça. Acho que vai ser maravilhoso! Mal posso esperar!

Infelizmente ainda não começaram as filmagens, mas parece que já não falta assim tanto!

O que é que a levou a escrever a sua primeira história?

(risos) Um livro horrível. Uma noite, estava a ler um romance extremamente aborrecido e decidi saltar a última metade do livro para ver o que é que acontecia no final, para ver se valia ou não a pena continuar. Quando li aquele fim absurdo, fiquei tão mas tão chateada que atirei o livro contra a parede (literalmente!), apontei para ele e disse para o meu marido: “Eu consigo fazer melhor do que aquilo!” Por isso, tentei e ainda consegui escrever cerca de 100 páginas até que descobri aquilo que todos os escritores profissionais sabem: escrever é difícil! Por isso, desisti. Dois anos depois lá acabei o tal romance, no entanto, por muito que eu goste da história, está tão mal escrito que precisa de ser rescrito de raiz. Talvez um dia, quem sabe.

Costuma escrever em algum parque, jardim ou, talvez, no seu quintal? Visto que a Natureza está tão presente em “O Beijo dos Elfos”, é fácil imaginá-la a escrever debaixo de uma árvore e rodeada de verde.

Oh, essa é uma imagem deveras agradável… mas não. Escrevo em casa, no meu escritório (que antigamente era o meu closet, mas entretanto transformei-o no meu actual e oficial escritório!). Em parte, isto deve-se a ter três crianças para cuidar (às vezes sou obrigada a trancar a porta do escritório) e também porque geralmente escrevo as sequelas de “O Beijo dos Elfos” no Verão. Para quem vive em Phoenix é impensável ir para a rua nesta altura, visto que as temperaturas rondam os 45ºC. Acredite, nem mesmo debaixo de uma árvore se pode estar… ou de um cacto! (risos)

A história que nos conta em “O Beijo dos Elfos” é, essencialmente, fruto da sua imaginação. Significa isto que não há necessidade de fazer pesquisas?

Credo, não! Uma das coisas sobre as quais eu estou, constantemente, a receber comentários é toda a botânica de que eu falo no livro. Quando eu decidi criar a minha própria mitologia, disse logo para mim mesma que, se as minhas fadas iam ser plantas conscientes, então teria de cumprir as regras da botânica. De maneira a que isso fosse possível, tenho passado os últimos três anos a estudar botânica bem a fundo. Desde os hábitos alimentares da Laurel (baseados em abetos e armadilhas voadoras de Vénus), ao modo como as fadas realizam a sua fotossíntese e como tudo funciona depois do pôr-do-sol, à maneira de como elas respiram (ou não!) – enfim, praticamente todos os aspectos físicos de Laurel são baseados numa determinada regra da botânica e saber todas essas regras exige horas e horas de estudo.

Os romances fantásticos exigem muito mais da nossa imaginação e criatividade do que qualquer outro género literário. Com isto, alguma vez aconteceu ter um bloqueio e não conseguir avançar na história?

Normalmente recebo bastantes críticas pela maneira como eu olho para os bloqueios na escrita. Dizem que o meu ponto de vista é muito irrealista, mas a verdade é que funciona. Eu não acredito em bloqueios. E, a partir do momento em que não são reais para mim, não me podem afectar. Além disso, tenho de dizer que grande parte daquilo a que os pequenos escritores se referem como bloqueios é apenas falta de ética de trabalho – foi aquilo que me fez desistir do meu primeiro romance, ainda eu não ia a meio. Sei que todos têm esta ideia (eu também a tive) dos escritores sentados, a escrever maravilhosamente, levados pelas suas Musas inspiradoras. A verdade é que não é assim – escrever exige trabalho a todos os escritores. Tudo bem que há dias em que as palavras simplesmente deslizam pelo papel e as coisas são muito mais fáceis, mas esses dias são a excepção e não a regra. Eu adoro escrever! A sério que sim. No entanto, é também um trabalho para mim, até porque há alturas em que somos obrigados a sentarmo-nos a escrever, dê por onde der.

Qual é a melhor parte de criar o seu próprio mundo?

Fácil! Dar vida a pessoas que eu adoro para passar o tempo com elas! Porque é isso que se faz quando escrevemos – passamos tempo com as nossas personagens.

David e Tamani são dois rapazes muito parecidos e diferentes ao mesmo tempo. Quer dizer, cada um deles é uma imagem diferente do rapaz perfeito. Fê-los assim intencionalmente? 

Oh sim! Muito intencionalmente, para dizer a verdade! Quando criei o David e o Tamani, fiz questão de criar duas versões do homem perfeito. Não gosto nada quando estou a ler sobre triângulos amorosos onde um dos rapazes é perfeito e o outro é um idiota. Ficamos a pensar: “Hum, qual deles é que a heroína deverá escolher?” E, vai-se a ver, o leitor passa o livro todo a querer gritar à protagonista que ela deixe de ser estúpida e fique com o tipo x. Acho que é muito mais interessante ter uma protagonista que se vê obrigada a escolher entre dois rapazes igualmente maravilhosos e atraentes. Aí sim, a escolha é difícil! É por isso que adoro quando recebo e-mails dos meus leitores a dizerem que são a favor do Tamani ou que são a favor do David (e, pelo que tenho visto, está tudo muito renhido!) – sinto que consegui criar exactamente o tipo de triângulo amoroso que queria.

Esse triângulo amoroso é uma parte essencial da história. Não acha que a presença deste conflito emocional se está a tornar cada vez mais habitual nos romances modernos?

Embora não se esteja a tornar um hábito na nossa vida real, não deixa de ser uma das nossas maiores fantasias: ser de tal maneira desejada que se tem dois rapazes a lutar por nós. Qual a rapariga que, no fundo, não quer que tal aconteça? Tudo bem que muitas de nós nunca passaram por esta situação e, provavelmente, nunca irão passar. No entanto, não deixa de ser um sonho, um desejo profundo. E, nos livros, podemos vestir a pele da nossa personagem principal e viver essa experiência de uma forma puramente inocente!

Agora que “Spells” já foi publicado e que os dois últimos volumes já estão a caminho, quais são os próximos planos? Já planeou escrever outras histórias?

Tenho imensos planos para o futuro! Depois da série de “O Beijo dos Elfos” já decidi que me vou dedicar a uma nova série e tenho umas tantas outras ideias na cabeça para livros independentes. Não vou parar de escrever enquanto tiver leitores das minhas histórias. Provavelmente, nem depois!

Entrevista retirada de Segredo dos Livros

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